terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Morrer é encarrar de frente nossos erros

                 ''Como você está vendo eu sou um coração despedaçado.
                  A minha tristeza não tem paralelos e eu sei que mereço, por tudo que fiz. 
                  Eu sempre fui um salafrário de marca maior, um crápula nojento e falso.
                  Meu lema era: eu vou tirar vantagem em cima de todo mundo.
                  Assim eu vivi, movido por este jargão idiota e escravo de minhas taras.
                  Eu não sabia na época, mas um monte de espíritos bravos me habitava.
                  Eu e eles éramos unha e carne, irmãos de falcatruas e arruaças.
                  Eu, burro achava que estava no comando, mas eram eles os meus chefes.
                  Eles estavam em mim. E eu não os via, mas intuía suas presenças invisíveis.
                  E, de alguma forma, eu me comprazia com os pensamentos deles em mim.
                  Eu vivi meu tempo desse jeito, com eles vivendo comigo a tiracolo.
                  E quando eu fiquei doente, eles me abandonaram e ainda riram de mim.
                  De vez em quando eles voltavam, para zombarem ainda mais e  sempre me torturavam.
                  Quando eu tentava dormir, eles me atazanavam, gritando em minha mente.
                  Eu fui xingado por eles da mesma forma forma que eu xingava os outros.
                  Falando reto. Eu merecia! Tinha vivido com eles em mim, e esse era o preço.
                  Finalmente, depois de padecer por anos, o meu tempo na terra acabou.
                  E eu fui envolvido por um turbilhão escuro, que me jogou na lama.
                  Então, eu me vi num lugar sujo e depravado. E ali havia outros do mesmo jeito.
                  Nós éramos um monte de estrume em forma de gente, refugos da maldade.
                  Nós nos arrastávamos naquela lama fétida, sem conseguir olhar para cima.
                  Uma força nos pressionava contra o solo, e não conseguíamos erguer a cabeça.
                  Nós estávamos grudados no chão daquele lugar, presos numa gosma escura.
                  Eu não sei quantos estavam ali, mas eram muitos. E eu era um deles.
                  O cheiro era insuportável, e uma maldita humidade nos impregnava.
                  Ali eu chorei. Ali eu vi o quanto eu tinha sido maldoso. Ali eu clamei por Deus.
                  E quando eu fazia isso, alguma coisa mudava dentro de mim....
                  Então, eu comecei a pedir perdão a Ele, porque finalmente eu me rendera.
                  Eu fazia isso do meu jeito ( não era do meu feitio rezar), mas algo tinha mudado.
                  Ali, naquele antro, eu aprendi a rezar. E até ensinei aos meus companheiros....
                  E eu dizia para eles que estávamos ali por causa de nossos atos maldosos em vida.
                  E que erámos merecedores por tal infortúnio. Então, não pedíamos a salvação.
                  Todos ali eram sabedores do mal que tinham feito, portanto não havia ilusões.
                  O que nós queríamos era o perdão de Deus. E mesmo, naquela lama, algo bom surgiu.
                  Dentro de nós brotou a compreensão de nossas condições, então uma fé nasceu....
                  A fé na redenção, mesmo para homens como nós, filhos da maldade.
                  Naquele antro escuro, nós choramos muito, enquanto nossa fé crescia.
                  E isso nos deu a chance de melhorarmos. Inicialmente, já conseguíamos olhar para frente.
                  Depois, conseguimos nos ver, uns aos outros, olhos nos olhos, mas com muita vergonha do passado.
                  Até que conseguimos olhar para cima, onde havia uma luz fugaz, bem distante.
                  Essa luz se tornou o nosso sonho e, gradativamente ela aumentava, e se aproximava.
                  Nós sabíamos que era a luz de Deus. E que nossa fé nos levaria até ela.
                  E assim foi... quando um grupo de pessoas abnegadas nos tiraram daquele lugar escuro.
                  No inicio, nós pensamos que eles eram anjos, mas depois percebemos que eram pessoas.
                  Eram homens e mulheres. Eram luminosos. Médicos, enfermeiros e ajudantes. Enviados pelo amor de Deus.
                  Finalmente fomos levados para um lugar de regeneração, onde fomos tratados.
                  Levou um certo tempo, mas melhoramos. Ganhamos o direito de ir viver na luz. Iremos para um centro de educação, lá continuaremos nossa trajetória rumo a reencarnação.
                  Eu falo em nome de todos eles, que subiram na fé, como testemunho de luz. Sabemos que o caminho para redenção total está longe, mas temos muita fé.''
                  Este relato é de um amigo que conheci em desdobramento na cidade espiritual Esperança. Este grupo de irmãos se encontraram no pós vida em um dos muitos antros umbralinos, mas essa união na fé e na prece fez com que muitos quisessem a regeneração e a mudança interna. Que possamos chegar a essa conclusão enquanto ainda estamos aqui no planeta terra, quanto mais cedo despertarmos, melhor será para nós.