quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Mensagem de um espírito que escolheu andar pelo caminho errado

       Dizem que o amor cobre uma multidão de pecados, é a mais pura verdade.
       Enquanto vivi na terra, fui um fardo pesado para minha humilde família, rebelde desde a infância, entrei na adolescência envolta em péssimas companhias, drogas e bebidas. Afeiçoe-me a sensações mundanas e prazeres fúteis da juventude.
       Engravidei de meu primeiro filho e não cuidei dele, deleguei essa função a meus familiares. Entreguei-me de corpo e alma as drogas, roubos para sustentar meu vício e muitas outras gestações vieram, sem nem ao menos eu saber quem era o pai, tudo era motivo pra curtição e prazer desenfreado.
       Meus filhos foram doados ou vendidos, não me interessava saber qual seria sua vida ou destino, o importante era minha fuga da realidade. Fui ao fundo do poço, o lugar mais degradante possível, não tem como voltar sem mudança, e ela não aconteceu.
        Por causa da prostituição e drogadicção fui parar na prisão, se o fundo do poço eu já achava ruim, ali vi o pior de mim e de tantas outras mulheres, somos tratadas como animais. Vi homens e mulheres irem lá trazendo a palavra sagrada, queriam nos obrigar a confessar nossos pecados para recebermos  redenção, mas nunca tentaram nos ajudar de verdade.
        Eu nem me sentia gente, era um bicho acoado, pronta pra dar o bote caso fosse necessário. Vi muitas mulheres que como eu sofriam, algumas morreram, outras se mataram. Não é fácil viver nesse tipo de ambiente.
        Entre idas e vindas do cadeião conheci uma mulher, que como eu, escolheu o caminho errado. Foi presa e estava grávida, deu a luz a uma pobre criança com insuficiência respiratória, numa noite chuvosa e sem médicos na prisão.
        Desenganada pela enfermeira, mãe e criança foram largados a própria sorte por horas a fio a espera de socorro, que demorou muito por causa do mau tempo.
        Tocada por essa cena triste e tocada por um sentimento que não sei de onde veio, velei pela mãe e filha. Peguei aquela pequena criança em meus braços e a apertei contra meu peito para aquece-la. Senti uma emoção como nunca tinha sentido antes, ela morreu em meus braços.
       Anos mais tarde ao desencarnar, encontrava-me numa cama imunda em uma pensão que durante a noite era bordel. Não pensem que nossa vida muda ao morrermos, tudo permanece igual. Eu gostava daquele tipo de lugar e foi lá que despertei. Vivia me escondendo das criaturas horripilantes que tentavam me aprisionar.
        Encontrava-me num escuro corredor, tentando fugir de olhos tenebrosos que me espreitavam na sombra, quando vi uma pequena faixa luminosa, surgiu uma jovem de olhar doce e amável. Estendeu-me a mão sem questionar meu passado ou minhas culpas. Apenas entrelaçou os meus aos seus dedos e me tirou daquele pesadelo horrível.
        Era a criança que anos atrás eu acalentei em meu peito protegendo-a do frio, talvez o único gesto sincero de toda a minha tormentosa existência. Apenas ela estava lá para me conduzir até a saída. Este pequeno gesto bastou para que eu merecesse misericórdia e hoje estou aqui de passagem, quis dividir minha história para tentar ajudar alguém que possa estar passando pelo que vivi. Tudo aquilo ficou no passado, agora estou me preparando para voltar ao mundo físico, é claro que terei problemas em decorrência de minha última vida, mas vou aceitar tudo o que vier com resignação, afinal aprendi que o amor cobre uma multidão de pecados.
        Cuidem de suas vidas com muito cuidado, não se deixem envolver por drogas, bebidas e prostituição, sigam um caminho melhor do qual eu segui. Quem sabe um dia poderemos nos encontrar aí na terra ou aqui do lado de cá. Força e coragem na sua caminhada terrena.

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