terça-feira, 3 de setembro de 2024

Porque não lembro de minhas vidas passadas?

              Ao nos prepararmos para reencarnar, nossas memórias são arquivadas em nossa mente espiritual, nascemos sem nenhuma lembrança para não interferimos na vida atual. Mas algumas pessoas trazem lembranças vívidas em sua mente, porque é simples para alguns e tão complicado para outros?
              A lembrança de outras vidas, ou melhor, um pedaço dessas lembranças às vezes fica gravado em nossa mente para não repetirmos os mesmos erros. É comum ao conhecermos determinada pessoa, sentirmos afinidade e termos a certeza que já nos conhecemos. Nos casos de uma grande afinidade ou vínculo, podemos até lembrar parcialmente.
             Eu sempre tive muitas lembranças, com o passar dos anos fui entendendo que tudo tem um motivo. Lembro-me que desde muito jovem, sempre tive a necessidade de viver em outra cidade, eu não me identificava com a cidade, costumes e pessoas da região que nasci. Amo meus familiares, mas sei que é a primeira vez que nascemos juntos, não tenho muita afinidade. Inclusive desde minha infância sempre ouvi dos parentes que eu era diferente, meu tom de pele, minha forma de falar, meus gostos alimentares, tudo em mim destoa da família.
             Nunca levei isso muito a sério, sinto que sou diferente, tento me adaptar quando estou convivendo com eles, mas realmente não me sinto parte daquilo. É como se eu estivesse de passagem em uma cidade qualquer, passo um tempo e volto para minha verdadeira casa. Minha família sabe que pode contar comigo para o que for preciso, mas minha casa é em outro lugar. Atualmente já se acostumaram com isso.
             Na minha primeira infância, logo que comecei a falar, sempre dizia que essa não era minha casa, que eles não eram minha família. Segundo minha mãe, certa vez eu disse que era mãe dela. Ela estranhava um pouco, como pode uma filha ser tão diferente. Vai ver vem disso a necessidade de me levarem a todo tipo de benzedeira, terreiro, casa espírita e muitas orações na igreja católica.
             Perdi as contas de quantas vezes tentaram me exorcizar, com quantos galhos de arruda bateram em mim. Finalmente lá pelos meus 10 anos de vida, conheci um padre que acreditava que eu via espíritos e a partir daí ele me protegia. Este acontecimento foi um marco em minha vida. 
              Como eu era meia endemoniada ou bruxa, era obrigada a ir na igreja sempre. Certo dia conheci um frei bem idoso, fizemos amizade, ele sempre ficava num canto da igreja observando tudo. Levei um tempo até entender que ele era espírito. Estava conversando com ele quando o padre se aproxima:
               -Olá Fatima, está falando com quem?
               -Com o frei Paulo.
               -Com quem?
               O padre ficou meio pálido quando eu disse o nome do frei.
               -O frei me disse que vocês são amigos. Que ele ensinou muitas coisas para você. Ele está dizendo que aquilo que vocês desconfiavam era verdade. Por isso ele está aqui, buscava uma forma de falar contigo.
               -Impossível você estar conversando com o frei, ele morreu há mais de 20 anos. Como ele é?
               -Ele usa um vestido, tem um cordão branco amarrado na cintura com vários nozinhos. Tem barba comprida e branca, ele é careca e fala meio enrolado, mistura o italiano com o português, assim como minha família.
                O padre ia arregalando os olhos. Mas nunca duvidou das minhas visões. Anos depois me contou que ele e o frei haviam combinado de se comunicarem, caso houvesse vida após a morte. E eu fui o elo entre os dois. Naquele dia combinamos que eu só falaria com ele sobre minhas visões, até porque meus pais não entendiam e achavam que eu tinha o demônio no corpo. Como parei de falar sobre o desconhecido, minha família acho que eu estava curada.
                 Muitos anos após eu ter mudado de cidade e perdido contato com o padre, um dia ele apareceu na minha frente para dizer que ele havia morrido e que tinha reencontrado o frei e os dois juntos vieram me visitar. Nos vemos sempre que é possível.
                  Eu acredito que tanto as lembranças de outras vidas como os espíritos que conheci, só foram possível por causa de meu passado espiritual unido a muito estudo. Uma coisa é consequência de outra. Sem falar que eu sou meio São Tomé, tenho que ver para crer. Se não vejo, sinto, ouço ou percebo algo, não confio plenamente. Até gostaria de ter uma fé menos palpável.
                  Cada um de nós trará a lembrança de que necessita, nem mais, nem menos, essa é a realidade. Até porque, lembrar não é para qualquer um ou para os que querem, mas sim para os que farão a diferença. Cabe aos que lembram, dividir essa lembrança ou conhecimento. Num mundo onde os likes e curtidas valem mais do que a realidade, aquele que fala a verdade sem cobrar nada em troca, já está um passo a frente em sua evolução.

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