segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Aborto, um assunto muito mais difícil do se imagina

                 A humanidade tem evoluído de forma lenta e gradativa, atualmente nossa tecnologia está tão avançada que muitos não estão conseguindo acompanhar, mas nossas leis ainda são antigas e precisam constantemente de renovação.
                 A discussão da vez é sobre o aborto, tirar a vida de um feto é certo ou errado? Aquela pessoa que por algum motivo comete esse procedimento, deve ser processado, pagar multa ou a prisão?
                 Não quero entrar no assunto da lei, mas sim, no que leva uma pessoa a querer ou precisar passar por algo tão doloroso fisicamente e emocionalmente? Nós humanos somos exímios em questionar, culpar e até condenar nosso semelhante sem ao menos tentar entender os motivos.
                 Sou contra todo tipo de procedimento que possa tirar a liberdade ou vida de qualquer ser humano, mas também não serei hipócrita ao ponto de dizer que nunca faria. Em uma situação extrema entre a minha vida ou de alguém que amo, não posso garantir que jamais faria algo errado em prol de minha sobrevivência. 
                 O que nos falta é empatia, julgamos sem tentar entender o que a outra pessoa sente. Tente se colocar na situação de alguém que por uma infelicidade de situações acaba sendo estuprada, a dor física unida a dor emocional é absurda e paralisante. Como se já não bastasse todo esse sofrimento, essa pessoa ainda descobre que está gravida. Quem consegue seguir em frente sabendo que além de ter gravadas na memória seus piores sofrimentos com o abuso ainda tem que gerar esse filho e ama-lo.
                 Como garantir que essa pessoa consiga viver ou mesmo tentar voltar a sua rotina se cada vez que olhar aquele bebê, saberá que é o fruto de seu pior dia na face da terra. É fácil falar e criar leis quando não passamos por nenhuma atrocidade ou mal estar. Leis e regras são importantes, mas perceber que cada caso é um caso também é necessário.
                  Pare de julgar tanto, tente se colocar na situação do outro. Não seja hipócrita de julgar quem faz aborto, se você mesmo nunca precisou passar por isso. Acho engraçado pessoas condenarem seus semelhantes quando fazem coisas piores. Vou compartilhar a história de Paula, agora ela está vivendo no plano espiritual, mas quando por aqui esteve viveu de forma como se não houvesse o amanhã. 
                  Paula nasceu numa família simples, não tinham luxos, mas os pais trabalhavam muito para dar a ela o maior conforto possível. Estudou em escolas públicas, teve muitos amigos, experimentou todas as drogas lícitas e ilícitas, ela queria sempre estar por dentro de tudo. Muito inteligente, trabalhava e dizia que o uso de drogas era algo esporádico, não era viciada, poderia parar quando quisesse.
                Álcool, cigarros, excesso de comida e sexo não eram proibidos, portanto ninguém tinha nada com isso. Em meio a essas bebedeiras ela conheceu Arnaldo, foi amor a primeira vista. Só que Arnaldo não era quem ela pensava, certo dia, num de seus encontros, ele lhe ofereceu uma bebida diferente, era gostosa, docinha e após alguns goles Paula desmaiou. Nesse sono interminável que ela adentrou, por vezes conseguia abrir os olhos e via um homem sobre ela, não sentia nada, estava amortecida, mas a cada abrir de olhos percebia que o tempo girava e ela continuava na mesma posição. Após um período que ela não sabia dizer, acordou jogada em um lixão.
              Sentia uma dor imensa, estava ensanguentada, suja e sem roupas. Enrolou-se em papelão para tentar sair dali. Com muito custo conseguiu andar até um orelhão para pedir ajuda. Passou um mês internada recuperando-se das chagas externas, achou que de certa forma estava bem fisicamente, pois o emocional estava abaladíssimo, não sabe exatamente o que aconteceu, segundo os médicos foi estuprada por dias seguidos e não se sabe por quantos homens.
              Paula iria tentar recomeçar a vida, deixando de lado todo tipo de drogas e vícios, queria uma vida diferente. Mas como ela mesma comentou em uma de nossas conversas, o mal praticado mais cedo ou tarde bate a nossa porta. Ela descobre que está gravida de gêmeos, o que fazer nessa situação? Paula estava desempregada, com a saúde debilitada e esperando dois filhos. Sua primeira vontade foi ir ao médico e pedir ajuda. 
               Como já tinham se passado três meses de gestação, não era permitido fazer o aborto. O desespero tomou conta de mente de Paula, ela não tinha condições de ter um bebê, imagina dois, sem falar que não sabia quem era o pai. Num momento de pavor decidiu ir a um curandeiro para resolver o problema. Tomou chás e alguns comprimidos. Horas depois desencarnou em meio a dor e uma grande hemorragia interna. Voltou para o mundo espiritual muitos anos antes do previsto e totalmente desequilibrada. Passou anos vagando por lugares horríveis até que foi resgatada pelos enfermeiros espirituais.   
                Hoje Paula vive em um hospital, faz tratamento emocional, pois trás muitas mágoas de sua última vivência na terra. Chora por não ter tido forças de recusar as drogas e bebidas, as vezes se desespera por ter se suicidado, naquela época não percebeu, mas hoje sabe que agia sem pensar direito, mesmo de forma inconsciente ela tentou fugir da vida que levava. 
                Não julgueis para não serem julgados, essas palavras de Jesus ecoam em minha mente sempre que ouça histórias de pessoas que passaram por uma grande provação e acabaram escolhendo o caminho mais fácil. Que possamos, independente das leis e regras termos empatia e amorosidade com quem erra, afinal, errar é humano e aceitável em nossa evolução espiritual.

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