sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Aconteceu numa sessão de terapia

            Quando digo que trabalho em consultório terapêutico com hipnose e regressão, muitas pessoas manifestam o desejo de passar pela terapia da regressão. Existe um misticismo em relação ao passado, ao que foi vivido. O desejo de tratar as deficiências emocionais quase nunca é o verdadeiro motivo da ida ao consultório.

      Cada sessão é um aprendizado novo para mim e para quem vem em busca da melhora emocional, hoje irei divulgar como foi uma sessão para o tratar medo por locais fechados. Maria, nome fictício, tem 36 anos e um pavor absurdo de entrar em locais fechados, andar de elevador já é uma tortura. Maria foi ao ginecologista e descobriu alguns nódulos em seu seio, nos exames tradicionais aparecia algumas manchas escuras, seria preciso uma ressonância magnética.

             No dia marcado, ela foi até a clínica e no momento em que visualizou a máquina entrou em pânico, começou a chorrar e saiu correndo de lá. O médico disse que não teria outra alternativa, precisava do resultado da ressonância para poder agendar a cirurgia e ela deveria fazer o mais rápido possível e de forma consciente, ou seja, nada de calmantes para fazer o exame.

            O desespero já tomava conta de Maria, foi quando o marido sugeriu procurar um terapeuta para tentar resolver essa situação. João, marido de Maria tinha um amigo que anos atrás passou por momentos de pânico e conseguiu se curar com a hipnose, ligou para seu amigo e conseguiu o telefone da terapeuta.

            Eles precisariam viajar para a capital, eram 300 km que separavam Maria da melhora emocional. No dia e hora marcada o casal estava aguardado na sala de espera, Maria estava um pouco ansiosa, afinal eram anos de medo e agora isso seria resolvido. Desde a primeira conversa com a terapeuta que aconteceu por telefone, Maria sentiu uma afinidade enorme, era como se as duas já se conhecessem, tudo foi previamente discutido, assim como quais seriam os procedimentos, a explicação  foi minuciosa  e com antecedência  para gerar tranquilidade.

            Após uma conversa, é pedido que Maria deite no divã, passaria por um relaxamento e a indução a hipnose. Assim que ela adentrou em transe hipnótico já começaram as induções verbais para que se imaginasse próxima a máquina de ressonância magnética. A princípio Maria deveria se visualizar olhando e tocando a máquina, essa era a forma dela perder o medo. Após, iria se imaginar fazendo o exame, foram muitas idas e vindas mentais em que Maria fazia o exame, saia da sala e retornava; até se sentir segura e sem medo.

          O tempo todo ela estava consciente e tranquila, ouvia a voz da terapeuta e seguia tudo a risca. Em determinado momento, ao sair da sala de exame, Maria disse que visualizava uma porta que não tinha visto antes, a terapeuta perguntou:

           -Você gostaria de abrir essa porta? O que sente ao se aproximar?

           -A porta me parece familiar, escuto alguém me chamando, vou entrar.

         Para a terapeuta isso não era novidade, Maria sem perceber entrou em regressão. Ela entrou no novo ambiente e disse ver uma criança.

           -Me descreva essa criança e o ambiente.

        -É um quarto infantil, muito parecido com o que eu tinha quando criança, nossa tem até uma boneca igualzinha a que eu tinha.

          Ela foi descrevendo os brinquedos, os móveis e no final disse que com certeza era o seu quarto. Se via naquela criança de dois anos.

            -O que aconteceu com você nessa idade? 

           -Não sei dizer, não tenho nenhuma recordação de antes dos meus 5 anos. Mas ao olhar para essa criança, sinto medo, pavor na realidade.   

           Fiz mais uma contagem para que ela tranquilizasse e pedi para avançar no tempo alguns minutos, a resposta de Maria foi muito rápida e assustadora.

            -Não consigo respirar, me ajude.

      -Maria, eu estou ao seu lado, lembre-se que só estamos observando, conte-me o que está acontecendo com a criança?

           -Ela se virou rapidamente e o cobertor a cobriu totalmente, ela está presa, não consegue respirar e tudo está escuro. O que eu faço para ajuda-la? 

          O pavor estava no rosto de Maria, um misto de medo, angustia e desespero tomava conta dela. Com calma e segurança falei

          -Respire calmamente e observe.

          -Tem alguém chegando perto do berço, é minha mãe, bem mais jovem, ela desenrola o cobertor e eu consigo respirar.

          O rosto de Maria fica tranquilo e sereno, ficamos mais alguns minutos observando e ela percebeu que a criança dormia profundamente com a mãe ao seu lado. Após os procedimentos para ressignificar essa memória, a trago de volta do transe. Explico que aqueles segundos em que ela ficou presa com o cobertor criaram o medo em sua mente, sempre que ficava em lugares fechados inconscientemente acessava aquela lembrança dolorosa.

         Conversamos por mais alguns minutos e ela saiu do consultório totalmente relaxada. Foi embora e no outro dia pela manhã faria o exame. Assim que fez o exame me ligou, contou que foi bem tranquilo e não sentiu medo. Disse-me também que andou sozinha de elevador, coisa que nunca havia feito. Ela perguntou para sua mãe se algo estranho tinha acontecido com ela durante a noite quando tinha dois anos, a mãe contou a mesma história que ela tinha visualizado em nossa sessão. Passados alguns dias me liga para dizer que a cirurgia foi um sucesso e que já estava em casa se recuperando. Atualmente fazem dois anos da consulta, já terminaram as quimioterapias e ela está ótima.  

         Cada sessão é uma nova história e um novo aprendizado, não estamos vivendo aqui no planeta terra por imposição, mas sim por necessidade de melhorarmos, para eliminarmos nossas más tendências, para aprendermos a sermos pessoas melhores e felizes. Não faça terapia por curiosidade, faça para se tornar uma pessoa mais equilibrada e desenvolver o auto amor.

       

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