sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Aproveite para reconciliar-se enquanto está no caminho da evolução

                Muitos me procuram por respostas, a dúvida e a incerteza fazem parte da humanidade. Em meus atendimentos, cursos e palestras sou abordada por determinados questionamentos, mas quase sempre as respostas estão dentro de nós mesmos. Conheci Karla no final de uma palestra.
                Observei que ela tinha um olhar triste, meio constrangida perguntou se poderia me fazer uma pergunta. Com os olhos marejados disse que sentia uma enorme dor na alma. Sentia um ressentimento muito grande por sua mãe. Não conheceu o pai e isso a fazia questionar se sua mãe a amava? Por mais que sua mãe fizesse tudo por ela, não conseguia se abrir para aceitar ou retribuir esse sentimento.
                Naquele momento não tinha como ajuda-la, afinal estávamos de saída da instituição e em meio a muitas pessoas. Entreguei meu cartão e pedi que entrasse em contato para conversarmos num lugar mais reservado. Passados alguns dias ela me liga e marcamos um encontro, ela optou por fazer uma sessão de terapia, queria falar tudo o que ia em sua alma.
                 Em meio a essa conversa, Karla fala com tom envergonhado que sua mãe era prostituta. Não posso aceitar isso, vai contra o que a sociedade nos diz que é correto, sinto vergonha e até nojo, como ela pôde me conceber em meio a tudo isso? Não tenho pai, pois ela nunca quis falar dele, provavelmente nem sabe quem é. Estou namorando um rapaz honesto, ele é professor, quer noivar e casar comigo, mas eu sinto vergonha de apresenta-lo para minha mãe. O que ele vai pensar de mim se souber que minha mãe foi mulher da vida?
                 Ela começou a chorrar desesperadamente, era visível que esse assunto a atormentava. Deixei que se acalmasse e perguntei: foi sua mãe que te contou que passou por essa dificuldade?
                  Com um olhar de estranheza ela responde: minha mãe não fala do seu passado. Conheci recentemente uma amiga antiga de minha mãe, passados alguns dias a encontrei na rua e fomos ao shopping tomar um suco, entre uma história e outra do passado, essa pessoa acaba deixando escapar que conheceu minha mãe no mesmo bar onde ela se prostituía. Ali começou meu desespero. Como pude estar tão enganada em relação a minha mãe?
                   -Você já conversou com sua mãe? Perguntou pela versão dela? Será que essa amiga falava a verdade?
                   Nesse momento Karla ficou pálida, ela criou uma versão em sua mente da história, começou a odiar a mãe e não teve coragem de confronta-la. Quando na realidade deveria ter questionado e não julgado. É de nossa natureza julgar, de certa forma é cômodo culpar os outros pelas nossas desgraças. Conversei abertamente com Karla e disse que ela deveria sentar e falar de forma franca com sua mãe, afinal as duas sempre tiveram uma relação boa e não fazia sentido ela criar esse rancor todo sem ouvir o lado mais importante da história. Nos despedimos e ela perguntou se poderia enviar um e-mail com a resposta. Concordei prontamente.
                   Mais ou menos um mês após nossa conversa recebo o e-mail de Karla dizendo que tinha conversado durante uma noite inteira com sua mãe, ficou sabendo que sua mãe tinha se casado muito jovem, meses depois enviuvou e não quis se casar novamente, achou mais fácil ficar trocando de parceiro, sem compromisso. Acabou ficando viciada em fazer sexo casual, ela não vendeu seu corpo, só estava curtindo a vida. Acabou engravidando e preferiu me criar sozinha, mudou de vida e se arrepende até hoje de ter vivido dessa forma, nunca mais se envolveu com ninguém, dedicou sua vida a mim.
                   O e-mail era longo, conta que pediu perdão por ter pensado mal e julgado a mãe que fez tudo por ela. Agradeceu-me imensamente por ajuda-la a abrir os olhos, reconciliou-se com ela mesma e com sua mãe. Afinal o mau julgamento estava em sua mente, como ela poderia pensar coisas tão ruins da mulher que dedicou a vida para sua felicidade. Hoje Karla mora em outra cidade, nos falamos sempre, ela optou por fazer terapia comigo para trabalhar certas crenças e medos que faziam parte de sua vida. Está casada e com um bebê recém nascido, ela e o marido trabalham e sua mãe cuida do neto, mimando e dando muito carinho.
                   A vida é curta demais para ficarmos alimentando raiva, medo ou insegurança. Jesus quando por aqui esteve nos avisou para aproveitarmos a oportunidade, afinal não sabemos o dia amanhã. A encarnação é a grande oportunidade de reconciliação.      

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