segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Uma história de natal

                    Era inverno e fazia muito frio, Paulo e sua irmã Maria estavam ansiosos com a chegada do natal. Os dois brincavam juntos enfrente a lareira que aquecia o ambiente. Seu pai descansava em sua cadeira de balanço de olhos fechados, mas atento ao que as crianças faziam. Paulo movia seu trenzinho para frente e para trás e sua irmã brincava com uma boneca.
                  -Papai quantos dias faltam para o natal? - Perguntou Paulo.
                  -Amanhã será véspera de natal, viajaremos para a casa de campo e nos divertiremos muito com a neve, saboreando as delicias que sua mãe está preparando.
                  -Não vejo a hora de brincar na neve, esse ano você deixa eu te ajudar a montar o boneco de neve? - Perguntou Maria um tanto ansiosa.
                  -Sim, mas você precisa seguir minhas ordens para que o boneco fique bem feito.
                  -Você é o melhor irmão de todos. - Disse Maria abraçando o irmão.
                  Ele sorriu orgulhoso, enquanto seu pai continuava a se balançar na cadeira. As horas vão passando e a noite vai chegando, todos foram dormir. Na manhã seguinte Paulo acorda cedo, está ansioso para viajar, vai tomar o café da manhã.
                  -Onde está a Maria mamãe? Ela sempre acorda antes.
                  -É verdade, vou ver se está tudo bem. - Disse a mãe preocupada, enquanto Paulo mordia seu sanduiche.
                  Entre uma e outra mordida no pão, Paulo pensava em quanto adorava essa época, viajar para a casa de campo, fazer bonecos na neve, brincar com as crianças da região, era o ápice das férias de fim de ano para ele, sua felicidade estava completa. Mas seus devaneios foram interrompidos com um grito estridente de sua mãe.
                  -Miguel, venha aqui, rápido.
                  Paulo viu seu pai correr rapidamente para o quarto e logo após passa pela porta com sua irmã desmaiada no colo.
                  -O que aconteceu papai?
                  -Sua irmã teve outra crise de asma, precisamos ir imediatamente ao hospital. Cuide da casa enquanto vamos até lá, assim que puder mandaremos notícias.
                  Paulo mal podia acreditar, sua irmã teve mais uma crise. Com tantos dias para ficar doente, escolheu logo hoje que eles iriam viajar. Parece que ela gosta de estragar os meus planos. Aborrecido recolhe as louças do café da manhã e vai jogando dentro da pia, a raiva era tanta que bate a xícara e a quebra.
                 -Mais essa agora. -Falou em voz alta enquanto recolhia cuidadosamente os cacos de vidro.
                  Sua irmã era assim desde que nasceu, vive doente. Antes dela aparecer a vida era pacata, os brinquedos eram só seus, não precisava dividir com ninguém. O quarto era só dele, com os brinquedos que gostava, agora tinha a cama da irmã, tinha bonecas e fitas coloridas. Sem falar que antes só ele tinha a atenção dos pais, agora tudo é pra Maria, afinal é menina e vive doente. Se não fosse o bastante ter que dividir tudo com ela, agora ela está roubando o que ele mais gosta que é o natal.
                   Lavou a louça e resolve voltar para seu quarto, não restava fazer mais nada além de esperar, seria melhor voltar a dormir e esquecer disso tudo. Entra no quarto e dá de cara com a boneca olhando e sorrindo para ele.
                   -Está rindo do que? Não vejo a menor graça.
                   -Queria que Maria não existisse, se não fosse por ela a essa hora estaríamos a caminho da casa de campo, me preparando para brincar na neve, mas estou aqui nessa casa sem graça tendo que olhar para uma boneca que fica sorrindo o tempo todo. Se papai Noel realmente existisse ele atenderia o meu pedido e deixaria que eu fosse feliz no natal, me levaria para a casa de campo e eu poderia me divertir sem que a minha família me aborrecesse e estragasse meus planos.
                   Em meio a tantas queixas e resmungos adormeceu. Após um tempo Paulo acorda e vê tudo escuro, vai tateando até conseguir acender a luz. Para sua surpresa está na casa de campo, a neve está caindo. Num misto de alegria e entusiasmo grita: meus desejos foram atendidos.
                   Veste seu casaco, gorro, luvas e as botas e corre para fora, sente a neve tocar seu rosto com suavidade enquanto ele sorri. Começa a montar o boneco de neve e percebe que a casa está vazia, onde está sua irmã e seus pais. O que teria acontecido com eles?
                   Depois de muito brincar na neve, entra na casa e vê a árvore de natal montada, nem esperaram por ele para montar. Olha para o relógio pendurado na parece e percebe que são 11 horas, todos deveriam estar sentados a mesa para desfrutar da ceia, corre para a cozinha e a mesa está repleta de guloseimas, estava saindo até fumaça do peru, sinal que acabou de ser tirado do forno, mas não tem ninguém na casa. 
                    Como estava faminto, senta-se a mesa e se farta com tantas delicias. Come até sentir-se farto, mas sente falta dos biscoitos engraçados que sua mãe faz. Será que não foi sua mãe quem preparou a ceia? Aquele silêncio é estranho, onde estão todos. A casa vazia não combina com a felicidade que ele sente todos os anos no natal. Havia algo muito errado.
                     Seu semblante iluminou-se ao ouvir a campainha. Eles devem ter chegado. Lembrou que sua irmã estava doente pela manhã, certamente haviam se atrasado, mas finalmente chegaram. Correu até a porta para recebe-los. Paulo abre a porta e se depara com um senhor de barba e cabelos brancos sorrindo para ele.
                     -Não vai me convidar para entrar? -Perguntou o senhor.
                     -Desculpe pensei que fosse minha família.
                     -Mas eu atendi ao seu pedido, pequeno Paulo. Achei que você estaria feliz essa noite, sem sua família, em sua casa de campo, brincando na neve, se fartando na ceia de natal e todos os brinquedos só para você.
                      -Espera aí, você é o papai Noel?
                      -Sim, sou eu mesmo. Não vai me convidar para entrar? Está bem frio aqui fora. -Disse esfregando as mãos.
                       -Claro, entre por favor. Está com fome? Sirva-se a vontade.
                       -Muito agradecido Paulo. Tudo está maravilhoso. -Disse enquanto mastigava. Mas sinto falta dos biscoitos divertidos que sua mãe prepara todos os anos. Eles são realmente magníficos, me fazem sorrir. Ho Ho Ho
                       Paulo estava surpreso com tudo isso, não estava entendendo como chegou ali sozinho e o que acontecia nesta noite mágica. E pergunta:
                       -Onde estão meus pais?
                       - Paulo, você pediu para ser feliz no natal, queria estar em sua casa de campo, queria brincar e se divertir, sem sua família por perto, pediu para que sua irmã não existisse.
                       -Sim, mas eu ...
                       -Seus desejos foram atendidos.
                       -Mas eu não estou feliz. Nem sei o que está acontecendo, me sinto terrivelmente triste, mesmo com todos os meus desejos atendidos. -As lágrimas começam a cair e um certo desespero toma conta de Paulo.
                       -Fique calmo, não precisa chorar, vamos dar um passeio. Pegue seu casaco e venha comigo.
                       Sem saber o que fazer, Paulo segue o papai Noel, entra no trenó e sobrevoam a cidade. A noite está linda, céu azul e estrelas contrastam com o branco da neve, passam por cidades, vales e montanhas, até que o trenó desce e para enfrente a uma casa simples. Olhando pela janela eles podem ver o interior de uma casa muito pobre, uma senhora doente na cama, ao lado uma menina e um menino.
                        A menina chorava, pois estava com fome, sua mãe muito doente adormecida na cama e o irmão tentava consolar a pobre menina. O tempo vai passando e a mãe não resiste. Algumas pessoas chegam e levam a falecida, um dos homens diz pro menino: 
                         -Se você não conseguir alimentar a sua imã, a levaremos para um abrigo, pois você já pode se cuidar, mas ela não.
                         -Não precisa, eu conseguirei cuidar dela. -Disse o irmão com segurança. 
                         Do lado de fora da casa papai Noel e Paulo observam a cena. Mas não eram vistos. Paulo pede ao papai Noel se ele não poderia ajuda-los. Ele não responde, apenas aponta para o menino que acaba de entrar na casa. A menina continuava a chorar de fome enquanto o irmão revirava os armários e não encontra nada. Com lágrimas nos olhos o menino diz:
                         -É noite de natal. Se papai Noel realmente existisse eu pediria um pão que nunca acabasse, para que eu pudesse alimentar minha irmãzinha e eu cuidaria dela para sempre.
                         Papai Noel piscou para Paulo e tira de sua bolsa vermelha o embrulho de um pão mágico. Enquanto os irmãos deitaram-se para dormir. Eles entram na casa e deixam sobre a mesa o presente. Paulo observa a menina e percebe que ela se parece com sua irmã Maria. Eles voltam para o trenó e para a casa de campo.
                         -Papai Noel aquela menina se parece com minha irmã Maria.
                         -Sim Paulo, esse menino era você e a menina sua irmã. Em outra encarnação vocês passaram necessidades e você me fez um pedido, mas prometeu que sempre cuidaria de sua irmã e de sua família. No entanto você não vem cumprindo o prometido nessa atual encarnação.
                          Paulo abaixa a cabeça envergonhado e lágrimas de arrependimento correm pelo rosto de criança. Chegaram até a casa de campo e o trenó para na entrada e Paulo diz cabisbaixo:
                          -Eu quero mudar meu pedido. Quero voltar para minha casa e estar com minha família nessa noite de natal e em todas as outras noites. Não preciso de presentes, brinquedos, neve ou qualquer outra coisa, quero minha família de volta.
                          -Infelizmente só posso atender um pedido por natal, você conhece as regras. O seu pedido deste natal já foi atendido e agora eu preciso ir embora.
                         Papai Noel se despede apressadamente, deixando o menino solitário na porta de sua casa. Paulo olha ao seu redor, vê o boneco de neve solitário que fez com muito carinho para sua irmã e entra na casa vazia e silenciosa. Sente-se triste e desolado, está arrependido de seu egoísmo, só lhe resta dormir. Daria tudo para estar com sua família novamente, dorme em meio as lágrimas.
                          Acorda um tempo depois, levanta e olha pela janela, não acredita que voltou a sua casa na cidade, ainda é dia e vê seus pais chegando com sua irmã, ela está abatida, mas caminha sozinha. Ele sai correndo do quarto para se encontrar com sua família, ele abraça sua irmã e ela lhe diz:
                         -Cheguei mas infelizmente não poderemos ir viajar ou brincar na neve este ano, me desculpe. Será que podemos brincar com nossos brinquedos aqui mesmo?
                         -Acho essa ideia perfeita, não existe nada melhor do que a família.
                         Todos se abraçam e agradecem por estarem juntos. Enquanto isso do outro lado da rua um senhor de barba e cabelos brancos sorrindo diz: Ho Ho Ho

                                              

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