segunda-feira, 3 de julho de 2023

Ser íntimo é diferente de estar com alguém

                 Falar sobre intimidade é muito complicado nos dias atuais. Intimidade não é algo físico, é algo da alma, está associado a confiança e segurança. Pode até se expressar fisicamente, mas não começa por aí. Intimidade é um estado da alma, mora nos detalhes, nos olhares, no silêncio das conversas que dispensam as palavras.
                Esqueça o sexo e o beijo na boca. É incrível como se pode fazer essas duas coisas sem nenhuma intimidade. Passar algumas horas junto de alguém que você nem conhece, fazendo sexo não é coisa de intimidade, está relacionado ao prazer propriamente dito.
                Intimidade acontece no encontro do que há de mais profundo em mim com o que há de mais profundo em você. E isso muitas vezes não está associado ao sexo ou beijo na boca, mas sim, no que cada um sente em relação ao outro e em estar junto.
                Intimidade é o espaço em que posso ser eu mesmo, onde posso existir sem medo, onde posso demonstrar minhas imperfeições, virtudes, posições políticas ou religiosas, onde posso pensar diferente de você, sem medo de cobranças ou questionamentos. Intimidade é onde posso existir na medida em que o outro me abriga e aceita.
                É poder dizer ao outro aquilo que calo para os demais. De todas as intimidades possíveis entre duas pessoas, nenhuma é mais profunda do que a sinceridade. Intimidade é poder dizer a verdade. Não a verdade absoluta, pois ela não existe, mas poder dizer a minha verdade. É ter a leveza de um lugar seguro, diante dos juízes que estão sempre prontos para me julgar.
                Intimidade é a raiz que alcança o mais profundo da terra, firmando relacionamentos em solo estável, preparados para enfrentar os vendavais. É o lugar onde as mentiras não precisam de justificativas e as verdades não precisam de defesas. 
                Algo assim, nesta profundidade, não acontece do dia para noite. Intimidade é uma construção que demanda tempo e investimento. Por esse motivo é que existe tão pouca intimidade, porque a velocidade e superficialidade de tudo colocam os relacionamentos profundos em extinção. Tudo é vivido de forma intensa e sem sentimento real.
                A grande tragédia disso é que vivemos sem nenhuma intimidade verdadeira, somos escravos da aparência, para agradar aos outros, que também não passam de escravos de um sistema falido. A vida sem intimidade é oca, vazia, ilhada. É o que possuímos de mais popular no momento.
                Estamos fugindo de nossa essência, deixando o domínio da mídia manipular nossa vida, deixamos de viver para apenas sobreviver. Até quando você permanecerá nesse sentimento de viver sem realmente viver?

Nenhum comentário:

Postar um comentário