Ricardo é médico obstetra, dedicou sua vida ao auxilio de mães e bebês, sempre que sua agenda de trabalho permitia, ele tirava alguns dias de folga para estar com sua família. Sua vida era perfeita, tinha filhos saudáveis e uma esposa que o amava, depois da família sua maior alegria era a profissão que escolhera ainda jovem.
Em um desses momentos de folga, foi com sua família passar o fim de semana num hotel onde tinham fontes naturais de águas térmicas, pois descansar é algo necessário. Como tinha por hábito acordar cedo, saiu do quarto enquanto sua esposa ainda dormia e foi fazer uma breve caminhada, observava outras pessoas também aproveitando o inicio do dia com caminhadas e exercícios.
Se comove ao ver uma jovem empurrando uma cadeira de rodas, pensa que sorte tem essa senhora por ter alguém tão dedicada lhe ajudando. Olha para aquela senhora e recorda que a mesma foi sua paciente há pelos menos uns 30 anos. Resolve se aproximar para ter certeza de sua lembrança.
-Bom dia.
-Bom dia Dr. Ricardo, que prazer lhe encontrar depois de tanto tempo.
Ele fica surpreso com a lembrança. Só se lembrava dela por causa das circunstâncias trágicas que os envolveram. Ela veio a sua clínica grávida de poucas semanas, logo após ter descoberto que seu marido tinha contraído sífilis, como se isso não bastasse, ele sofreu um acidente de carro e morreu. Ela viúva e grávida de uma criança que muito provável nasceria com sequelas da doença ou poderia não conseguir terminar a gestação.
Ele como médico recomendou que se fizesse um aborto pelo seu bem, pois as chances do bebê nascer saudável eram mínimas. A mãe não aceitou fazer o aborto, disse que tinha certeza que Deus cuidaria dela e de seu bebê. Por causa das circunstâncias ela mudou-se de cidade e eles perderam contato.
Ricardo tinha curiosidade em saber se ela levou a gestação adiante, mas não iria perguntar por educação, ao cumprimenta-la a enfermeira se afastou discretamente para que eles pudessem conversar.
-Não achei que a senhora lembraria de mim. Como tem passado?
-Já faz alguns anos que fui diagnosticada com esclerose amiotrófica, passo meus dias fazendo exercícios para conseguir ter uma vida razoável, mas vejo que os anos foram generosos com o senhor, parece exatamente igual ao nosso último encontro.
-Gentileza sua, a idade chega para cada um de nós. Mas a senhora teve muita sorte em encontrar alguém tão dedicada para lhe acompanhar e lhe ajudar nesse momento tão difícil, não é fácil encontrar uma boa enfermeira.
-Ela não é minha enfermeira, é a filha que o senhor queria que eu abortasse.
-Pela primeira vez fico feliz em não ter acertado um diagnóstico. Parece que a senhora estava certa em me contrariar.
-Eu só segui meu coração, o amor que sentia pelo bebê era tão forte que não tive coragem de interromper a gestação. Foi a maior bênção que recebi na vida, ela é minha alegria, meus dias ficam mais leves e tenho motivação extra para enfrentar a doença.
-Sempre tive curiosidade em saber como a senhora estava, mas na aquela época não existia celular e perdemos o contato. É um prazer revê-la e em tão boa companhia.
Ela chamou a filha e os apresentou, alguns minutos depois, os três se despediram e seguiram seus caminhos, mas Ricardo nunca mais se esqueceu desse encontro. Ele era um homem da ciência, acreditava em Deus, mas jamais teria tomado um decisão como essa senhora tomou, para ele isso era milagre, a partir desse dia começou a ouvir mais seus pacientes, sem se focar exclusivamente na medicina.
Como já diz o ditado popular: entre o céu e a terra há muito mais do que nossa vã filosofia acredita. Somos intuídos o tempo todo, mas as vezes em meio a tantas pessoas e energias fica difícil prestar atenção aos avisos do plano espiritual. Jesus nos alertou que a mudança e cura só acontece através de nossa fé. Que nossa fé seja o alicerce firme e forte de nossa vida.
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