terça-feira, 14 de março de 2023

Precisamos nos afastar do mundo para adentrarmos ao autoconhecimento

             ''Ouçamos com ouvidos internos, pois ninguém pode assimilar bem uma experiência que não provenha de sua própria orientação interior.''
             Segundo Blaise Pascal, grande pensador científico-filósofo do século XVII, a verdadeira natureza do homem, seu verdadeiro bem, sua verdadeira virtude e a verdadeira religião são coisas cujo o conhecimento é inseparável. Nem sempre estar só ou se isolar é sinal ou motivo de dor. É, em muitas ocasiões, um período de preparação, um tempo de crescimento, um convite da vida ao amadurecimento.
             De acordo com o pensamento de Pascal, o âmago do ser está intimamente ligado ao bem, à virtude e a religião. É justamente nos momentos de solidão que conseguimos a motivação necessária para estabelecer a verdade sobre este fato. Na solidão é que encontramos sanidade para nosso mundo interior, respostas seguras para nossos caminhos incertos e nutrição vitalizante para os dissabores que enfrentamos em nossa viagem terrena.
              Nessa minha escrita sobre a solidão, não estou me referindo a tristeza de estar só, mas sim, a necessidade de quietude íntima, tão importante e saudável em prol de nosso autoconhecimento, valorizando as nuances de nossa vida interior. 
              Grande parte das pessoas vivem dentro de um ciclo diário estafante, realizam suas atividades num ambiente de muita competitividade, agitação, pressa e rivalidade. Vivem em constate tensão psicológica e por consequência alteram suas funções fisiológicas ao ponto de causarem males a sua saúde.
               Atualmente todos andam esgotados física e mentalmente, é quase impossível nos conectarmos com nossa essência, nos isolamos do mundo, pois nosso mundo interior está sempre sobrecarregado com pensamentos em excesso, ocasionando gradativamente sérios problemas de convivência e inúmeros conflitos pessoais.
               Sei que nem sempre é possível abandonarmos a vida alvoroçada, os ruídos e as músicas estridentes, talvez em alguns casos seja mesmo inviável, mas é perfeitamente realizável dedicarmos algum tempo a solidão, retirando-nos do mundo para momentos de reflexão. Nos instantes de silêncio, exercitamos o aprendizado que irá nos ajudar a abrir um canal receptivo à consciência divina.
                São nesses momentos em que nos isolamos do mundo que nos conectamos ao que verdadeiramente faz parte de nós, ou seja, nossa real essência. Percebemos que não estamos sozinhos e que podemos entrar em contato com nossa consciência. Sigmund Freud dizia que a solidão é a melhor forma de acessarmos o conteúdo que fica no inconsciente, pois é lá que ficam guardadas nossas melhores e piores lembranças, quando a mente fica apaziguada nossa luz interior brilha muito mais.
                Inúmeras criaturas criam uma mente agitada por temerem que estão vazias, pensam não haver nada dentro delas que lhes dê proteção, apoio e segurança. Acreditam que são uma casca que precisa de proteção exterior, por isso continuam ocupando a casa mental ansiosamente, obstruindo seu acesso a luz espiritual. Estão fugindo de quem eles realmente são.
                 A mente pode ser uma ajuda efetiva ou mesmo um obstáculo ferrenho na escolha da melhor direção para atingirmos o amadurecimento íntimo. A crença em nossa limitação é que faz com que restrinjamos nossa mente. Isso se agrava quando envolvemo-la no  burburinho de vozes, no tumulto e na agitação do cotidiano, passando assim a não darmos o devido valor ao nosso verdadeiro potencial.
                 São muitos os caminho de Deus, e a solidão pode ser um deles. ''E saindo, foi, como costumava, para o monte das Oliveiras, e também os seus discípulos o seguiram'' (Lucas 22:39). Jesus constantemente, se retirava para a intimidade que o silêncio proporciona, pois entendia que a elevação da alma somente é possível na privacidade da solidão.
                  O Mestre sabia que quando houver silêncio no coração e no intelecto, se estabeleceriam as bases seguras da relação entre criador e criatura, proporcionando a percepção de que somos unos com a vida e unos com todos os seres. 
                  Ninguém é capaz de seguir sua verdadeira estrada existencial, se não refletir sobre sua essência, não encontraremos o caminho que verdadeiramente necessitamos, se nós mesmos não o buscarmos, usando nossos inerentes recursos da alma para perceber as inarticuladas orientação divinas em nós. Somente cada um pode interpretar as razões da vida em si mesmo.
                  Adotemos o aprendizado que Jesus nos ensinou no monte das Oliveiras, retiremo-nos para um lugar a parte e cultivemos os interesses de nossa alma. Se não encontrarmos um recanto externo que facilite a meditação, nem alguma paisagem afastada junto a natureza, onde possamos repousar da inquietação da multidão, mesmo assim poderemos penetrar ao nosso santuário íntimo.


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