quarta-feira, 29 de março de 2023

Viver em sociedade

                   A vida em grupo afeta a todos. Emoções, decisões e comportamentos são fortemente influenciados por pequenos grupos, nos quais as pessoas se inserem, querendo ou não, como trabalho, família, grupo de amigos e escola. Existem também os grandes grupos aos quais somos inseridos, como a cultura de uma nação, estado e país. Há que se concordar que ao nascermos no Afeganistão, Brasil ou em Angola, teremos desafios diversos para a formação da personalidade e potencialidades diferentes entre si.
                   O espiritismo deixa claro que precisamos viver em sociedade para evoluirmos e as pesquisas científicas estão chegando a essa conclusão, quem se afasta do convívio tende a adoecer com mais frequência. Kardec faz um reflexão sobre o assunto no livro dos espíritos. ''A vida social está na natureza? Resposta: Certamente. Deus fez o homem para viver em sociedade. Não lhe deu inutilmente a palavra e todas as outras faculdades necessárias a vida de relação''.
                    Martin Seligman, fundador da psicologia positiva, corrobora com esse pensamento de que a vida em sociedade é condição implícita ao homem, ao afirmar que somos indiscutivelmente sociais e essa pode ser considerada nossa grande habilidade em comparação aos outros animais. É importante considerar que a humanidade se encontra sempre em constante escala evolutiva e os avanços são alcançados e usufruídos coletivamente. Assim, quando alguém desenvolve um veiculo elétrico, primeiramente precisou se apropriar de muito conhecimento anteriormente socializado e realizado por outras pessoas.
                     A vida em sociedade é provocativa, ela estimula o movimento, a adotarmos comportamentos diferentes, a repensarmos o papel assumido diante dos outros. O psicólogo e escritor Rollo May afirma que nosso cérebro cria e recria todos os dias simulações de mediação das relações. É através dos outros que adquirimos uma parcela expressiva de nosso senso de realidade.
                      As influenciações socioambientais apresentam perspectivas diferentes, permitindo ao homem oportunidades de aprendizado no convívio com outras pessoas. Dessa forma, encontramos no livro dos espíritos que o homem se desenvolve por si mesmo, naturalmente, mas nem todos progridem simultaneamente e do mesmo modo. O que ocorre é que os mais adiantados auxiliam no progresso dos outros, por meio do contato social. Dessa forma o progresso e a vida em sociedade se conectam de alguma maneira, enquanto que as leis da natureza ajudam a sustentar o homem no seu processo de aprendizado e evolução.
                       Não é possível precisar o quanto as influenciações socioambientais afetam cada um, mas há consenso sobre seu grande potencial de intervenção na formação de cada individuo e sobre as escolhas das pessoas. Consultado por Kardec, um espírito diz o seguinte a respeito das influencias do meio, em relato publicado na revista espírita de março de 1858:
                      ''O pendor para o mal estava na vossa natureza, ou fostes também influenciado pelo meio em que vivestes? Resposta: Sendo um espírito inferior, a tendência para o mal estava na minha própria natureza. Quis elevar-me rapidamente, mas pedi mais do que comportavam minhas forças''.
                      Sendo esse espírito inferior, ou seja, ainda não desenvolveu certas aptidões e conhecimentos, a condição de nascimento em muito contribuiu para as escolhas e caminhos que seguiu. Embora reconheça que sua vida poderia ter sido diferente, algo fica claro, pois não conseguiu aprender muitas coisas, acabou se perdendo em suas pseudo certezas e mergulhado em uma atmosfera mais densa do que poderia suportar.
                      Partindo do entendimento de que a vida em sociedade faz parte de nossa natureza humana e da reconhecida capacidade da influenciação pelo meio, é preciso questionar se vale a pena o isolamento. Ou mesmo os que preferem se relacionar o mínimo possível, isso sem falar nos que escolhem o isolamento em nome do autoconhecimento e dá conexão com sua transcendência. O que pensar nesses casos?
                       Martin Seligman fala dos efeitos da solidão, muito mais do que a depressão, o isolamento afeta nossa saúde mental e física, ampliando em nós o egoísmo, criando medos e fobias desnecessários. Quem se isola vive triste e com receio do futuro. Quem vive perto de gente solitária tende a sentir solidão e se isola cada vez mais.
                       Podemos viver em sociedade a ao mesmo tempo tirarmos alguns minutos ou horas para buscarmos a reconexão com nossa essência, através de boas companhias, bons livros, boa música, mas principalmente desenvolvendo em nós o auto amor, o perdão de nossos erros, a empatia que nos faz sermos mais maleáveis e leves em relação ao outro. 

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