quinta-feira, 13 de abril de 2023

O dia em que morri

               Este título parece estranho, mas após ler o texto de certa forma você irá concordar comigo. As vezes estamos tão envolvidos em nossa rotina do cotidiano que simplesmente parece que não vivemos, na realidade quase sempre estamos sobrevivendo.
               Minha primeira parcela de morte começou quando acreditei que existiam vidas mais importantes e preciosas do que a minha. O mais estranho é que eu acreditava que isso era humildade. Nunca pensei na possibilidade de existir o auto abandono. Quando deixamos de pensar em nós mesmos e priorizamos os outros, estamos de certa forma dizendo para o mundo que nós não temos importância nenhuma.
                Morri mais um pouquinho no dia em que acreditei que poderia existir uma vida ideal, estável, segura e confortável. Passei a não saber lidar com as mudanças. Elas me aterrorizavam e faziam com que eu perdesse o equilíbrio, ou seja, eu sofria por antecipação.
                Depois vieram outras mortes. Recordo-me que comecei a perder gotículas de vida diária, desde que passei a consultar os meus medos ao invés do meu coração. Desse dia em diante comecei a agonizar mais rápido e a ser possuída por uma sucessão de pequenas mortes interiores.
                Morri no dia em que meus lábios disseram o primeiro não, enquanto meu coração dizia sim. Morri novamente no dia em que abandonei um projeto pela metade por falta de disciplina. Morri no dia em que me entreguei a preguiça, no dia que decidi ser ignorante, cruel, egoísta e desumana comigo mesma. Você pode pensar que não decide essas coisas, lamento em dizer, decide sim.
                Sempre que você troca uma vida saudável por vícios, gulodice, sedentarismo, drogas, alienação intelectual, emocional, espiritual, cultural ou financeira, você está fazendo uma escolha entre viver e morrer. Reveja suas escolhas.
                Morri no dia em que decidi permanecer em um relacionamento ruim, apenas para não ficar sozinha. Mais tarde percebi que troquei afeto por comodismo e amor por amargura. Morri outra vez, no dia em que abri mão dos meus sonhos por um suposto amor. Confundi relacionamento com posse e ciúme por zelo.
                Morri no dia em que acreditei na crítica de pessoas cruéis. Acreditei na pior delas, eu mesma. Morri no dia em que me tornei escrava das minhas indecisões. No dia em que prestei mais atenção as minhas rugas do que os meus sorrisos. Morri no dia que senti inveja, que fiz fofoca e que difamei alguém. 
               A cada decisão ou pensamento ruim fui me transformando em uma vampira da felicidade alheia. Morri no dia em que acreditei que preço era mais importante que valor. Ao se perder o valor que cada pessoa possui é fácil cair nas garras da competitividade, acabei cega para a beleza da singularidade humana.
               Morri um pouco mais no dia em que troquei o hoje pelo amanhã. Você quer saber a coisa mais louca que aconteceu? O amanhã como eu havia idealizado não chegou. A vida ficou vazia. Sem história, sem música, sem cor. Não morri de causas naturais, aos poucos fui assassinando minhas emoções, meus sentimentos e minhas ações. A razão desses abandonos foram uma sucessão de desculpas e equívocos. Mas, ainda assim foram minhas decisões erradas que me trouxeram até aqui.
               Sabe o que é mais irônico nisso tudo? As pessoas que vivem bem não tem medo da morte real. As que vivem mal é que padecem desse sofrimento, embora de certa forma já estejam mortas, pois já desistiram de viver. O medo aprisiona a mente o corpo e a alma.
               Que possamos ter coragem para nos reinventarmos a cada dia, em busca de nosso amor próprio, de nossos sonhos e desejos de sermos pessoas melhores, plenas e seguras de nossa missão no planeta terra. A felicidade é nossa maior meta e missão de vida.

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