quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Resgate difícil

     Nossa missão do dia, no caso noite, era resgatar um espírito, que pelo fato de ter se recusado a reencarnar por mais de um milênio, estava com seu corpo astral em decomposição se aproximando da ovoidização. Esses espíritos que chegam nesse nível, normalmente são resgatados pela misericórdia divina e encaminhados a reencarnação urgentemente, normalmente nascem com muitas sequelas em seus corpos físicos e nem conseguem sobreviver por muito tempo, na maioria das vezes, necessitam passar por diversas gestações até poderem adquirir um corpo que consiga sobreviver até o final da gestação.
     Fizemos nossa oração costumeira, a qual pedimos forças, determinação e muita coragem, pois o regate não seria nada fácil, partimos em oração constante, em um grupo de cem pessoas entre encarnados e desencarnados. Muitos guardiões e índios para nossa proteção, todos armados, pois o espírito em questão era um dos chefes de uma grande organização do mal, de uma das cidades umbralinas bem próxima da terra . Normalmente nesses casos ocorre combate, pois seus comparsas não nos deixarão sair de lá com seu chefe sem muita luta.

     O caminho para a cidade era escuro e enlameado, o cheiro insuportável, tudo muito parecido com as outras cidades do umbral. Nos aproximamos da cidade e nos dividimos e vários grupos para facilitar a locomoção, devo deixar claro que todos estávamos vestidos conforme o povo de lá, ou seja sujos e maltrapilhos, para não sermos reconhecidos. Eu e alguns ficamos encarregados de pegar o espírito, que já estava num estado bem avançado de decomposição, só percebi isso ao chegar perto.
     Ao nos aproximarmos da caverna onde Trovão estava, nome pelo qual o chamava pois disseram-me que sua voz ecoava feito trovão, muitos seguranças o protegiam, já esperávamos por isso. Alguns de nosso grupo magnetizaram mentalmente para que os guardas caíssem em sono profundo, entramos e bem ao fundo da caverna dentro de um cesto envolto à panos sujos estava Trovão. Aproxime-me, o cheiro era de podre, ao puxar o pano levei um susto, pois tinha o tamanho de uma criança de uns cinco meses, mas era horroroso, deformado, não dava pra imaginar que aquilo um dia tinha sido humano; fiquei paralisada por alguns segundos, até que me chamaram, rapidamente enrolei aquele ser e saímos de lá o mais rápido possível.
       Mas do lado de fora a guerra já nos aguardava, tiros para todos os lados, começamos a correr, eu com o ser no colo e vários amigos tentando me proteger, corríamos por vielas fétidas, em direção a saída da cidade, ou pelo menos até encontrarmos alguns de nossos amigos que se espalharam pela mesma. Mentalmente pedíamos socorro mas era difícil correr e mentalizar ao mesmo tempo. Finalmente vimos alguns de nossos amigos ao longe com um veiculo, se é que podíamos chamar aquilo de carro, um jipe quase que totalmente destruído mas andava. Quando cheguei perto, joguei-me com Trovão e mais alguns que corriam comigo, mas os tiros não cessavam, cães enormes também corriam para nos pegar, um quase nos alcança. Com muita dificuldade conseguimos sair da cidade, onde uma nave nos aguardava para o resgate.
      Nosso irmão Trovão foi encaminhado para o hospital onde seria tratado e reencarnaria logo, para nós do grupo de resgate foi uma grande experiência, pois nunca tínhamos passado por tanto sufoco, como naquele resgate, só queríamos voltar para nossos corpos e descansar......

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