quarta-feira, 13 de abril de 2016

Depoimento de uma suicida

       
          Eu vivi em uma pequena cidade chamada Épinal, nordeste da França, o ano era 1910; lembro do ano pois foi o mais feliz daquela vida. No início de fevereiro eu conheci Marcel, um jovem pianista, nos apaixonamos imediatamente, tanto que após seis meses nos casamos.
           A vida era maravilhosa, fazíamos  muitas viagens por causa da carreira de Marcel que estava em ascensão; conheci muitas cidades do interior da frança. Até que tudo começou a desmoronar como um castelo de areia...
          Numa apresentação de Marcel, ele sentiu-se mal, tonturas, dor no peito e cabeça. Acabou desmaiando e fomos ao hospital, após alguns exames os médicos disseram que era o coração. Dois dias depois, Marcel teve uma forte dor e faleceu...
          Foi o pior dia de minha vida, fiquei sem chão e não sabia o que fazer com essa situação. Dias após ao enterro eu ainda estava inconsolável, não me alimentava, não recebia visitas, e alguns pensamentos começaram a tomar conta de minha mente....
          Este era o meu fim, sozinha sem meu amor, eu não queria mais viver neste mundo.
          Tomar a decisão foi muito fácil, via em minha mente todo o cenário do que deveria fazer. Era muito simples, uma echarpe de seda, um lustre e meu pescoço....
          Não sei exatamente como aconteceu, mas no momento que saltei da cadeira, junto com a dor veio o arrependimento. Sabia que era errado tentar o suicídio, mas ainda bem que me arrependi....
          -Quem disse que você não se suicidou?
          Olhei pro lado e vi um homem vestido com uma jaleco branco e calças pretas, aí pensei, como pode este homem ter entrado aqui, eu tranquei a porta.
          -Eu não preciso de portas, e você também não mais....
          -Como assim? Eu me arrependi, não morri. Veja estou viva aqui falando com você.
          -Realmente você não morreu e está falando, mas seu corpo é outra história.... Olhe para trás.
          Não sei dizer o que senti, um misto de susto com vontade de vomitar....
          -Eu devo estar sonhando, como posso ser duas?
          -Você não está sonhando, aquele é seu corpo físico, e este é sua alma...
          Se eu já não estivesse morta, acho que morreria de novo. O jovem senhor disse-me que se chamava Alberto, e que era meu anjo da guarda, por assim dizer. Levou-me para um hospital, onde fui tratada por muitos meses, até que eu pudesse frequentar uma escola onde aprenderia sobre os espíritos.
          Eu posso dizer que está história de inferno como a igreja costuma nos ensinar é mentira, nem todos vão pra lá, até mesmo pessoas como eu que se mataram, nem sempre vão ficar em lugares onde o sofrimento impera. Segundo Alberto, muitos se arrependem e são ajudados, o próprio Jesus nos alertou: ''Pedis e obtereis.''
          É claro que minha atitude não ficará impune, eu errei e vou responder por isso. Mas estou trabalhando e estudando muito aqui pra reencarnar logo, me disseram que serei médium, tenho até participado de aulas a respeito. Uma coisa eu aprendi, fazer o bem nos ajuda sempre, mas o mais difícil é permanecer no bem, por isso tenho estudado muito, afinal terei uma vida cheia de provações e também algumas dores  em decorrência de minha antigas atitudes....
          Não percam a chance de se tornarem melhores, está talvez seja a última oportunidade para isso....Não tenham medo de viver, aprendam com meu sofrimento, as vezes a vida nos dá muitas provas pesadas, mas como sempre Deus nos manda anjos para nos ajudar....
         Fiquem em paz, e quem sabe algum dia a gente se esbarre por aí....

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